Cabeçalho

Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

#Verborragia: Preconceito

      Para entender o motivo da "Verborragia" por favor leia o início do texto "Inclusão". A palavra do dia é #Preconceito e meu primeiro preconceito do dia foi justamente contra ela: Não quero escrever sobre isso.

      Ocorre que o tema é extremamente saturado, com ampla produção a respeito (minha, inclusive) e todo mundo está cansado de saber tudo sobre o isso, até mesmo quem pratica o preconceito; não se trata, de forma alguma, de ausência de informação e, certamente, não seria um texto meu que resolveria a coisa.

      Desejei trocar a palavra mas, além de sucumbir ao preconceito, eu estaria corrompendo o propósito da #Verborragia; não posso escolher o tema. Dadas estas premissas, sigamos.

      O preconceito é natural da vida humana; certamente é uma derivação (deturpada) do medo nesta entidade (semi) consciente que nossa espécie se tornou. Nas vidas (supostamente) inconscientes o medo é estratégia de sobrevivência: você não pode ficar esperando para ver, buscando compreender melhor a coisa ou ente desconhecidos para, então, formular um conceito apropriado. Nesse meio tempo você morreu devorado. Não é difícil supor que no processo de elaboração da consciência (o que nada mais é que um processo de verbalização de instintos, ao menos em princípio) o medo, ainda como estratégia de sobrevivência, ramificou-se nessa conceitualização imediata e irrefletida de coisas e entes. Explico:

      Toda nossa existência objetiva é traduzida em conceitos em nosso universo subjetivo. Você não tem a mais remota ideia do que é um "Marcelo Moreira", você apenas possui um conceito mais ou menos verossímil construído a partir de opiniões, experiências e leituras. Maior tempo de observação, maior precisão do conceito (nunca perfeição, importa registrar); menos tempo, equívocos grosseiros; nenhum tempo, #Preconceito.

      O preconceito é o ato de formular conceitos sem passar pelo processo de capitação dos dados necessários para sustentá-lo; um homem desconhecido vem na mesma calçada, na direção oposta; você não sabe seu nome, história, sentimentos, profissão, valores, etc., dados mínimos para iniciar o processo; você pula tudo isso e carimba o sujeito com um (pré) conceito pronto, derivado exclusivamente da etnia, classe social e/ou aspecto.

      Lembre-se: o medo é estratégia de sobrevivência; você vai me odiar (preconceito?) pela próxima afirmação, mas preciso dize-la, o preconceito TAMBÉM é estratégia de sobrevivência.

      Uma moça à noite vê um sujeito na contramão da calçada está em risco. Trata-se de um homem, heterossexual, branco, bem vestido. Nada disto garante segurança. É o preconceito que levará esta moça a procurar abrigo interrompendo a caminhada em um lugar (algum ponto com movimento, por exemplo) minimamente seguro. Não quero, em hipótese alguma, construir qualquer defesa ao preconceito, assim como nunca defendi o medo (leia Não deixe o medo DE cegar ). Ocorre que para saber como lidar com as coisas, sejam lá quais forem, precisamos compreendê-las (somos [supostamente] racionais, não). Qual o momento exato em que a ferramenta de sobrevivência (eventualmente útil até na atualidade, como no segundo exemplo) se converte no desastres que assistimos todos os dias (a propósito. Releia o primeiro exemplo. Eu não descrevi o sujeito da calçada. Você o imaginou como?)

     No meio do caminho entre medo/preconceito como estratégias de sobrevivência e medo/preconceito como leviandades desnecessárias (ou absurdos nas interações humanas e até crimes) podemos/devemos colocar a reflexão lógica. Nosso ato de pensar é uma PAUSA no processo. O animal teme e foge; o homem teme, se retém, analisa dados adicionais que o animal despreza e toma (ou pode tomar) decisões diferentes. Deve ser assim com o medo. URGE SER assim com o preconceito.

      O preconceito em si ocorre instintivamente, assim como o medo. Ou melhor, é um desmembramento semi-conceitual (portanto, com aspectos de inteligência mais que de instinto) de heranças instintivas obsoletas ao nosso estilo de vida atual. Ambos ocorrem mas, a cada ocorrência, deve ser ato voluntário e consciente do indivíduo reconhecer-lhes a natureza e impor-lhes limites. Não deixe o medo DE cegar. Não deixe o preconceito TE cegar. Se eu consegui escrever até aqui você consegue, progressivamente, ultrapassar seus instintos.

     Um abraço!

Nenhum comentário:

Postar um comentário