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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

#Verborragia: Dúvida

      Para entender o motivo da "Verborragia" por favor leia o início do texto "Inclusão". A palavra de hoje é "Dúvida". Todo o ato começa numa dúvida. A vida se move na incerteza.

      Te convido a realizar uma viagem (intelectual, não mística) até o mais antigo ancestral que você for capaz de conceber (para mim é fácil: eu jogo Spore). Uma criatura unicelular, notadamente heterótrofa, locomovendo-se pelo mundo. Ela não tem olhos, ouvidos, lembranças nem traumas. Embora não seja capaz de elaborar qualquer questão do tipo "Devo?", "Posso?", "Será?", sua vida é a demonstração prática e constante destas dúvidas. Uma versão muito rudimentar de tato reduz sua existência ao imediato.  Não existe passado (precisa de memória); não existe futuro (se você não vê, escuta ou fareja, à distância, não é possível antecipação); o presente é uma realidade devastadora. Perceba que é ali, no ato do toque, sem tempo para pensar nem segunda chance, é que é preciso decidir: devorar ou fugir? Dúvida. Note ainda que nem ali, naquele momento, se possui todos os dados para a decisão; da coisa tocada só se conhece o ponto do toque; um ponto não mostra nada do restante do corpo ou criatura: menor que eu? Maior? Se move? É predador? Nada. Tomada a decisão a consequência é imediata: nutrição para um pouco mais de tempo existindo ou fim.

     Avance a "fita" deste filme e introduza novos sentidos: todos eles tem uma única função, fornecer distância. Com a distância há mais tempo para a reação; com a distância há maior segurança, mas esta nunca é plena; a dúvida é eterna.

      Com os órgãos dos sentidos nascem os filamentos que conectam o ponto de recepção do dado ao ponto da reação (há uma distância real, fisiológica, entre o olho que viu o predador e o membro responsável pela fuga). Ainda que a espécie que estamos avaliando não ganhe volume externo significativo, as "linhas " que conectam os órgãos de recepção e os membros de reação ficam cada vez mais complexos, prolongando artificialmente a distância entre informação e reação.  Chamamos este prolongando de cérebro.

      Destrua a fita e salte num único movimento aqui para a nossa espécie. Consideramos nosso cérebro o topo da evolução dos tipos possíveis de cérebros. Ora, se todo o processo evolutivo acima foi uma estratégia para distanciar riscos e aprimorar seguranças, como hoje vivemos essa rotina tão avassaladora de dúvidas? Sendo o cérebro uma desdobramento quase infinito da primeira linha "informação X reação" que propusemos acima, parece que a dúvida , em vez de ser sanada, ganhou caminhos para ficar passeando e elaborando indefinidamente.

      Ah! Essa magnífica fábrica de dúvidas. Como viver sem ela? (Literalmente. É ela que faz tudo funcionar, né?). A dúvida é uma versão do medo, ambos estratégias ancestrais para a sobrevivência. São quase gêmeos, sendo o medo um sentimento não verbal e a dúvida a verbalização deste medo.

      Tenho uma surpresa pra você: meu cérebro é como o seu, portanto, não tenho solução  para minhas dúvidas, nem para as suas, quiçá para este texto.

      Tudo o que tenho é uma ideia, frágil, insustentável, tênue como fumaça de cachimbo: não deixe uma ferramenta criada para manter a vida te privar de vivê-la!

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