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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

#Verborragia: Lazarento

      Para entender o motivo da "Verborragia" por favor leia o início do texto "Inclusão". A palavra de hoje é "Lazarento". O primeiro e mais natural impulso é entrar na política e transcorrer sobre o atual presidente, Jair Anticristo Bolsonaro. Desisti em segundos: quem já notou a pequenez moral e espiritual deste sujeito não precisa de mim; quem não notou não sabe ler. Vou falar de espiritualidade.

      Sorteei a palavra a caminho do ponto de ônibus para deixar a ideia fermentar enquanto ia ao metrô, onde escrevo efetivamente. No percurso esqueci da fermentação e pensei noutra coisa, totalmente desconexa, o pecado. Agora quero força-la aqui. Não pensei especificamente nas acusações cristãs de pecado, listas infinitas de "não pode", "Deus não gosta" e "Deus castiga". Eu (e certamente Deus também) não tenho (não temos) saco pra isso. Meu pecado foi outro. Em tudo eu reconheço Akasha (outro dia explico) e eu reverencio Akasha. Da janela do ônibus reverenciei o Fogo nos raios de sol que atravessaram o espesso nublado do céu, reverenciei o Ar no percurso daquela imagem, reverenciei a Água na cobertura de nuvens e reverenciei a Terra no aparato que constitui meus olhos; em tudo isso reconheci e reverenciei Akasha. Desci do ônibus e caminhei até as catracas do metrô. No percurso fui conversando com Shiva e agradecendo coisas. Não foi um ato plenamente sincero. Ele sabe. Foi uma construção retórica para garimpar outra coisa. Um pedido? Um desabafo? Não importa. Você já fez isso? "Senhor, eu te agradeço por A, B, C, ..., X, Y e Z, MAS...". Meu irmão, o pecado não está nas proibições que teu sacerdote enumerou; o pecado está no "MAS". Numa relação honesta e saudável com Deus (qualquer Deus; todos os deuses) você assume conscientemente a responsabilidade pelo seu processo de amadurecimento (Leia "Amadureci") e se aproxima de Deus em busca de "pistas" que indiquem caminhos e estratégias para isto, sem "mas".

      "Mas" é mendicância, ingratidão, turbidez no olhar, ignorância e atraso. Cada "mas" é uma chaga, uma ferida aberta na pele da alma que a gente coça até infeccionar (achou que eu esqueceria do "Lazarento" né?). Seguimos com corpos quase perfeitos enquanto recobrimos nossas almas de infecções. Almas lazarentas. A propósito, segundo a Dra "Ok Google" lazarento é aquele que está recoberto por chagas; o Michaelis o coloca como sinônimo de leproso e expande para mau, perverso e pernicioso (donde o impulso inicial). Mesmo se/quando não somos perversos somos, no mínimo, ingratos; há sempre um "mas" em nossas relações com Deus.

      Convém explorar ainda mais a imagem do hanseniano. No antigo testamento, ainda que não se fizesse nada para contrair a hanseníase (lepra), o indivíduo era tido como pecador, era apartado da sociedade e era seu dever, toda vez que via alguém ao longe, anunciar sua presença aos gritos "impuro! impuro!", para garantir ao "cidadão de bem" a chance de não cruzar com ele (Sobre a hanseníase recomendo efusivamente a leitura da obra "Vidas em Retalhos", de meu amigo Joselito Estevão de Araújo - procure por @Joselitoesteva2 no twitter). Guardadas as devidas proporções, não saímos por aí gritando "impuro! impuro!" para anunciar a todos nossas ulcerações espirituais. Não estou nem pensando em maldade, vaidade, inveja, mesquinhez, etc. Retenho-me na singela e inocente permanência do "mas". Toda ulceração, no limite até aquela que vem a recobrir o corpo todo, começa num minúsculo ponto que coça, eis o "mas".

      Por outro lado, embora nenhum dicionário explore a conexão semântica, para efeito ilustrativo eu vou sintetizar (forçar mesmo) uma conexão na raiz. Bem lá no fundo somos todos lazarentos (conforme premissas acima); bem lá no fundo somos todos Lázaros! Se assim for, bem lá no fundo, carregamos o gérmen para ressureições diárias, despidos de todo o tipo de mortes e sepulcros com os quais nos revestimos progressivamente, despidos das ulcerações, despidos de todos os "mas". Ali, naquele momento, "deslazarentados", poderemos agradecer honestamente. Nada mais.

2 comentários:

  1. Adorei a #verborragia ,meu amigo Marcelo. Texto interessantíssimo que vale a pena sim, ser publicado. Obrigado pela citação do meu nome. Parabéns!

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