Cabeçalho

Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

#Verborragia: Aventura

 A palavra indicada para esta verborragia é #Aventura. É uma escolha curiosa. A vida deveria ser uma aventura mas, no geral, tornou-se um processo tosco e repetitivo, nada "aventurínico" .

Hoje é sexta, 06/10/2023. A palavra foi escolhida/proposta desde 30/09, sábado, e a frase acima está escrita desde então, imóvel, inerte, como uma semente sem eclodir.

Essa foi uma semana na qual não me senti aventureiro, portanto, julguei-me desconectado demais da palavra para desenvolvê-la. Adiava a escrita como se levá-la a termo configurasse algum tipo de hipocrisia. Só hoje fui assaltado pela compreensão de que é justamente a apatia que sinto agora que torna tão imperativo que a palavra seja especificamente esta.

Eu não sou um sujeito particularmente destemido. Escolhi "destemido" no lugar de "corajoso" porque há confusão na leitura dos termos. Tenho medos, muitos, mas não me deixo petrificar por eles. Se é preciso fazer, vou e faço; Se é preciso ir, vou. Há medos¹, entretanto,  relacionados a coisas não necessárias, assim, não vou, não faço.

Como a aventura entra em tudo isso?

Essa foi uma semana na qual não me senti particularmente aventureiro. Eu ando de moto há três semanas, aproximadamente. Em semanas anteriores, nas quais eu me sentia particularmente aventureiro, minha "aventura" era comedida: fazia a viagem de ida e volta do trabalho sem adentrar em todos os corredores. Há alguns, mais largos, nos quais sentia maior segurança em desbravar; de outros me esquivava, enterrando-me na fila dos carros, abraçado ao trânsito desagradavelmente lento de São Paulo. Aqui evoco a ordem das definições de "Aventura" do Michaelis para servir de roteiro para nossa análise.

As definições 1 e 2 são, respectivamente "Acontecimento imprevisto; incidente" e "Ação ou empresa arriscada". Justo nessa semana, adquirem importância especial se considerarmos que na terça feira, 03/10, ocorreu greve dos metroviários em São Paulo. Já havia agendamento prévio de consulta com dentista para meu filho (estrategicamente escolhido em clínica próxima ao meu trabalho) e uma reunião na qual eu precisava estar na mesma manhã.  Eu levaria meu filho de garupa. Até aí, tudo bem. Tudo sob controle. O "acontecimento imprevisto; incidente" foi a greve cair exatamente no mesmo dia, levando todos os usuários de trem e metrô para o ônibus ou carro, gerando trânsito ainda pior que o normal. A "ação ou empresa arriscada" se desenrolou no momento em que eu, preocupado com os dois horários que não podia perder (consulta e reunião. Lembra?) comecei a mergulhar em corredores que até então não entrava. Deu tudo certo. Sobrevivemos, consulta e reunião realizadas. Desbloqueei alguns medos.

Sobre o elemento 3, "Conquista amorosa que geralmente se revela passageira; caso, flerte", nada tenho a dizer. Trata-se de aventura da qual não estou participando.

A definição 4, "Sucessão de ocorrências resultantes de causas independentes da vontade; contingência, eventualidade, sorte", remonta à minha experiência espiritual nessa mesma jornada motociclística de 3 semanas. Antes disso, muito tempo antes disso, desenvolvi o hábito de conectar-me com os elementos da existência. Fazia (e faço) reverência aos elementos que compõe o universo, Terra, Água², Ar, Fogo e Akasha. Depois de um tempo, incluí divindades no processo, assim, na medida do possível, realizava, todas as manhãs, no conforto do ônibus lotado que me levava, reverência:

à Terra, à Gaya, ao Ganesha, à Lakshmi

à Água, à Lua, à Parvati, ao Indra, ao Varuna

ao Ar, ao meu amado mestre Shiva, ao meu amado mestre Shiva, ao meu amado mestre Shiva,

ao Fogo, ao Krishna³ e ao Brahma.

Incluída a moto na rotina, vivo o conflito de inserir esse momento de oração em minha viagem, cheia de surpresas que alteram meu estado de atenção, mas tenho conseguido realizar as preces na ida e na volta.

Eu desejei explicar esse momento de oração porque a definição 4 fala de "sorte". A cada divindade que eu menciono em minha oração eu ofereço uma reverencia, seguida de um agradecimento, assim, minhas orações na ida e na volta tem sido assim:

"Eu reverencio ao elemento Terra, e à minha amada irmã Gaya, a quem agradeço pela nutrição do meu corpo e pela boa saúde; eu reverencio o meu amado irmão Ganesha⁴, a quem agradeço pelos caminhos desobstruídos e seguros; eu reverencio a senhora Lakshmi, a quem agradeço pelos momentos de boa sorte

Eu reverencio o elemento Água, e a minha amada irmã Lua, a quem agradeço pela beleza distribuída nas noites deste mundo; reverencio minha amada mãe Parvati, a quem agradeço pelos caminhos desobstruídos, pelos caminhos seguros, e pelos momentos de boa sorte; eu reverencio meu querido amigo Indra, ao qual agradeço pelo bom tempo e segurança na terra; eu reverencio meu querido amigo Varuna, ao qual agradeço pelo bom tempo e segurança no mar

Eu reverencio o elemento Ar, e reverencio meu amado mestre Shiva, ao qual agradeço pelos caminhos desobstruídos, eu reverencio meu amado mestre Shiva, ao qual agradeço pelos caminhos seguros, eu reverencio meu amado mestre Shiva, ao qual agradeço pelos momentos de boa sorte

Eu reverencio o elemento Fogo, e reverencio meu querido amigo Krishna, ao qual agradeço por ter-me iniciado nos caminhos do vedanta, e reverencio o senhor Brahma, ao qual agradeço por criar este mundo com tanto amor e carinho, mundo cuja beleza me fascina incessantemente.

Em tudo reconheço Akasha, e por manter tudo unido e funcionando, proporcionando-me esta experiência de beleza e contemplação, eu reverencio Akasha."

(encerrado o trecho acima, ainda em 06/10, passei por nova suspensão na escrita. A retomada abaixo ocorreu em 09/10/2023).

Há momentos da vida de todos nos quais o acaso parece nos favorecer; estes momentos são denominados, via de regra, de sorte. Cada pessoa, conforme sua experiência pessoal, subjetividade e (eventualmente) espiritualidade, atribuirá estes momentos de sorte a uma origem: Uns agradecerão divindades, outros atribuirão à pura aleatoriedade, outros oscilarão em variantes destes dois cenários. O importante é que, independente da causa que cada um de nós atribuamos aos eventos da nossa existência, os eventos estão lá, ora positivos, ora nem tanto, emaranhando-se nessa complexa tapeçaria que  chamamos de vida, a maior #Aventura .

Curiosamente, a 5ª definição nos dirá que Aventura é "folia barulhenta e divertida; farra, patuscada.", um lembrete importante de que nossa vida precisa ser compreendida como uma oportunidade de deleite⁵, não de sofrimento. Veja, os momentos não tão positivos assim são inevitáveis, eventuais dores físicas e emocionais são inevitáveis, mas o sofrimento⁶ é evitável. Sentir a coisa é inevitável, mas sofrer a coisa é escolha. É possível  escolher se percebo a vida como castigo, ou como aventura. É possível o esforço diligente e constante de instalar nossos pensamentos na segunda via, donde deriva a 6ª definição de #Aventura, "feitos heroicos de cavaleiro⁷ andante ou de cavalaria.".

Todo o herói de qualquer história passa por desafios, problemas, complicações, perdas, etc., do contrário, todos os livros e filmes mostrariam a monotonia da bem aventurança ininterrupta, algo que não nos agradaria ler ou assistir⁸. O mesmo vale para nossa própria existência. Ela é baseada no enfrentamento dos desafios, o heroísmo diário realizado por cada um de nós, conscientes ou não, para seguir em frente. A #Aventura cotidiana nos grandes e pequenos desafios, rumo a novas paragens.

Precisamos reconhecer, ou recordar, que a vida é uma grande aventura a ser desbravada corajosamente. Não é fácil, mas é possível. E não precisamos estar sozinhos nessa labuta. É natural das grandes histórias que não sejam vividas por heróis solitários, mas por agrupamentos de valentes personagens movidos por ideais em comum.  Nossa vida também pode ser assim, cada qual apoiando o amigo adjacente em sua aventura particular, criando uma comunidade voltada ao bem geral, ao sucesso de cada um em seus riscos e empreitadas. É possível.

Aventuremo-nos por essas vias.

É possível!


Notas:

1. Leia Não deixe o medo DE cegar! 

2. Leia Fiat Água! 

3. Leia Um Deus Esclarecido!

4. Leia Ganesha

5. Leia Bacon

6. Leia Por que Deus ignora nosso sofrimento?

7. Leia Cavaleiro

8. Leia Salvar os Santos

   

Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!   )

Nenhum comentário:

Postar um comentário