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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

#Verborragia: Silêncio

Aqui mais uma palavra que me deixou animado¹ com a escolha/sugestão, ainda assim, fiquei em silêncio, adiando a produção do respectivo texto. Noto agora, enquanto digito, que o próprio ato é uma sucessão de silêncios, como se a criação fosse um ditado: em silêncio "escuto" meu espírito, escrevo, escuto, escrevo, etc.

Em diversos momentos do nosso dia paramos (ou deveríamos parar) para pensar: qual será o almoço, o que responder para a pessoa, como solucionar aquele problema, etc. Embora todos estes momentos pareçam muito barulhentos, dada a verborragia praticada por nossas mentes, há um quê de silêncio, pois há algo em mim que cala para ouvir o outro algo tagarela. Curiosamente, os dois "algos" sou eu, minha mente, meu ego.

Entre a palavra "ego" e a palavra "entre" fiz outra pausa, novo silêncio, para escutar o que meu espírito desejava dizer em seguida. Já postulamos noutras oportunidades que nossa existência subjetiva tem aspecto de população, não de indivíduo ², e nesse diálogo, alternância de falar e calar de cada parte, que nossa personalidade é desenhada, assim como nossas respostas ao mundo são decididas (nem sempre democraticamente).

Outro silêncio aqui.

Penso que um exercício interessante seria a tentativa (e é, geralmente, a isso que as religiões orientais nos convidam) de silenciar, momentaneamente, todas as partes do eu. Se, em cada silêncio meu, outra parte minha fala, quem me dirigiria a palavra em caso de silêncio generalizado?

Talvez algo muito tímido (ou sensato) esteja sempre em silêncio, evitando disputar espaço com a gritaria geral que há em mim. Se ele não precisasse lutar por atenção, o que diria? Pode ser Deus, ou deuses, consciências transcendentais, mas não precisamos discutir metafísica ou mitologias para insistir nesse intento: pode ser "meu coração", meu inconsciente, meu subconsciente, etc.

Que há algo em mim que é diferente de mim e tem muito a dizer é fato: meus sonhos demonstram isso todas as noites³.

O que "ele" me diria se recebesse minha atenção em vigília?

Outro silêncio aqui.

Eu nunca gostei de reuniões. Mesmo aquelas em que não há desordem (leia-se "discussão"), a eficácia é muito baixa. "Nada que um e-mail não tivesse resolvido!", como se diz por aí. Na adolescência eu participava de um grupo de jovens, na igreja, e desde aquela época me desencantava com as repetitivas reuniões: alinhamento, realinhamento, revisão, cobrança, queixa, etc. Nós não tínhamos e-mail. Naquela época eu dizia "se reuniões realmente resolvessem coisas, jamais teria acontecido uma segunda reunião, na história da humanidade.". Ainda penso assim, seja para as reuniões externas de nossa vida em sociedade, seja para a interminável reunião das partes de nossa existência subjetiva. Deveríamos dar uma oportunidade para o silêncio. Eventualmente falamos para refletir ⁴, o que é bom e importante, mas precisamos, eventualmente, de um silêncio mais profundo, isento até da reflexão (que é ruído, mesmo que benéfico) ⁵.

Longo silêncio aqui (uma semana entra a parte acima e a abaixo).

Conversei com Colorine (vocês adorariam conhecê-la) sobre amor. Tentei defini-lo, às pressas, como: "O amor é o cuidado, o carinho, o afeto. Ele não mora no que se diz, mas no que se faz. Há "Eu te amo" em "Respire!", em "Dormiu bem?" e em "Como você está?". Ele também não reside nos grandes incêndios, explosões, intensidades. Ele mora na suavidade. Na garoa, na planta regada, na flor observada.".

Passamos a explorar a necessidade, ou não, de dizer "Eu te amo!". Me pareceu fazer sentido trazer o tema para cá, pois se não digo, amo em #Silêncio.

Dizer "Eu te amo!" me parece importante, portanto, neste caso, não farei apologia ao silêncio. (notou que inverteu-se completamente o assunto? Era preciso. Esgotei o que havia para refletir sobre o calar no trecho anterior. Foi uma curva bem vinda).

Como respondi naquele diálogo, "Eu te amo!" é algo que gosto de dizer, de ouvir, mas vivemos em um mundo no qual a frase foi banalizada. "Eu te amo!" é repetido como mantra, por pessoas que nada sentem naquele momento (ou sentem outras coisas, confundidas com amor). Melhor seria que tivessem se calado. Melhor seria o silêncio. Torna-se necessário existir o ato (eventualmente silencioso) para validar aquilo que se diz.

Há muito amor não dito, no mundo. Amor calado; amor não confessado. É possível amar, romanticamente ou não, sem dizer, em silêncio. É evidente que o amor não romântico tem menos ocasiões de não ser dito, não ser demonstrado. É mais fácil que o amor não romântico seja dito e mostrado e o romântico, escondido, silenciado. Calar não é o ideal. O sentimento quer viver, quer ser vivido, quer ser apresentado, mas é possível amar sem dizer. Me parece até algo comum. Mas é imprescindível que, pelo menos, o amor seja demonstrado.

O amor dito ou não dito, demonstrado ou não, é algo complexo. Tem um milhão de variáveis para se avaliar. O ideal (não necessariamente realizável) seria o amor incondicional.

Nesta experiência, o ente que ama não precisa de nenhuma validação da parte do ser amado. Não o ente que ama não precisa que o amado ame, diga ou demonstre. Por outro lado, o ente que ama, como agente ativo daquele amor, precisa de validação de seu próprio amor, ou seja, dizer e demonstrar. A validação faz-se necessária ou não, conforme a direção do sentimento. O agente do amor torna a validação importante, enquanto ele demonstra e fala do amor. Quando o agente do amor cobra fala ou demonstração do ser amado, aí sim, há um problema. O amor deixa de ser incondicional, pois o amor fica condicionado àquilo que o outro devolve; o que diz e demonstra.

Em uma direção a validação é importante; em outra direção a validação torna-se problema. Faz sentido?

Quando você ama alguém, ao amar, quer demonstrá-lo. Isso não é um problema. Ao amar, quer falar. Isso não é um problema. Você, ao amar, quer demonstrar. Isso não é um problema. Quando, você, ao amar alguém, quer que essa pessoa retribuía. Isso é um problema, pois aí você coloca uma condição ao seu amor. Isso é amor condicional. "Eu te amo se você e amar"; "Eu te dou carinho SE você me devolver carinho". Isso é uma condição. Este "SE" é uma condição. "Eu gosto de você SE…". Todo o amor que espera, que pede, que vislumbra, que tem expectativa de receber algo, é condicional.

Para que o amor seja incondicional você tem que ser capaz de amar, de dizer que ama, de entregar amor, de entregar afeto, afeto, de entregar cuidado, de não fazer silêncio, sem esperar receber algo em troca.

Novo silêncio aqui. Agora sem espera. Silêncio conclusivo. Calo-me.

Começamos explorando os pontos nos quais convêm calar. Terminamos nos pontos em que convém falar/demonstrar. Ora silêncio, ora outra coisa. 

Esse texto parece ambíguo. Duas metades que não se completam, como se eu tentasse reconstituir o fruto original unindo meio tomate e meia laranja. Não é isso. Acho que o amor, romântico ou não, é o centro da existência, quando se está aberto à ideia de descobrir que somos mais que autômatos programados para manter este mundo existindo. Inserindo-nos na hipótese de que a existência humana tenha significado maior que a de ser engrenagem econômica, um significado faz-se necessário. Se assim é, parece-me que o Amor é um bom candidato. Se assim for, assumo que o silêncio que eu aprendi na primeira metade deste texto me fez ouvir e, ao fazê-lo, aquilo que me transcende e, ainda assim, sou eu, falou-me da segunda parte. Falou-me de Amor.


Notas:

1. Leia Caminho 

2. Leia Meias (3) 

3. Leia Eu nunca sonhei com Deus 

4. Leia Reflexão 

5. Ouça A paz que eu sempre quis (Vida Reluz) 


Para entender o motivo da Verborragia clique aqui (Participe! É grátis e fará um [pseudo]autor muito feliz!   )

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